Parte III
Seja jogado (a)
01-Redução da maioridade penal;
02- Proibição dos comerciais infantis;
03- Cada vez mais pais reclamando que "a novela das oito, ao mostrar um beijo entre duas senhoras, é um mau exemplo para as crianças e a família brasileira";
04- Cada vez mais gente que exige por parte do Congresso Nacional a aprovação de projetos de Lei como o "Ficha Limpa". Gente que se acomoda ao acreditar que "somente dessa forma o Paulo Maluf não será eleito";
05- Motoristas que não pensam duas vezes antes de beber e pegar o volante não pelo temor aos estragos que podem causar, mas agora pensam duas vezes, antes de dirigem embriagados, "porque o valor da multa de trânsito aumentou", "porque agora haverá mais blitz da Lei Seca".
Dentre essas 5 mazelas, vejo uma coisa em comum em cada uma:
Penso que, ao invés de tanta gente ainda acreditar que, por exemplo, "a redução da maioridade penal para os 16 anos acabaria com a criminalidade", poderia começar a conversar consigo mesma e, quem sabe, se permitir uma "REDUÇÃO DA MAIORIDADE DE SUA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA".
Sempre foi dito que o "Estado brasileiro interfere demais na vida das pessoas: são impostos daqui, multas dali...". No entanto, hoje em dia, tenho pensado se o Estado brasileiro se mostra cada vez mais interventor nas nossas liberdades individuais "porque quer", ou se o nosso Estado cada vez mais interfere nas nossas vidas e liberdades é porque parte da população brasileira simplesmente está ABDICANDO de parcelas da sua AUTONOMIA, deixando para o governo muitos dos seus problemas, que poderiam ser resolvidos até mesmo dentro de suas próprias casas, ou até mesmo dentro de suas próprias consciências e preconceitos.
01- Redução da maioridade Penal.
Vejo em noticiários que adoram o sangue alheio, dia a após dia, uma suposta luta permanente travada pela "parte boa da sociedade" ao pressionar o Estado para protegê-la contra aqueles pejorativamente considerados como "marginaizinhos".
Ouço essa parte da sociedade brasileira, que se auto-intitula como "boa e justa", com a audácia de dizer, de cara limpa, na tela da minha TV:
"Que educação que nada! É criminoso simplesmente porque quis, porque escolheu". Ouço intolerância, insensatez, estupidez e insensibilidade de calhordas que ainda por cima são muito bem remunerados para disseminarem o ódio e o terror à nossa população (travestidos de jornalistas, José Luiz Datena, Raquel Sheherazade, Marcelo Resende e Carlos Vianna, etc). Indivíduos que em nada se importam com a obrigação ética de sua categoria, ou pelo menos em se atentar para as verdadeiras causas dos problemas que acometem o nosso povo. Não: tão somente abrem a boca para críticas, desmoralização, e para conclamar o Estado a agir de acordo com uma suposta necessidade de aumentar o rigor das nossas Leis Penais, a fim de julgarem os "delinquentes mirins", que "escolheram a vida fácil do crime".
02- "Não às campanhas publicitárias infantis. Não basta regulamentá-las: DEVEM SER PROIBIDAS!".
Será mesmo que a publicidade infantil precisa ser proibida?
Por quê?
Quando vejo tantos pais pressionando o Estado no sentido de proibir as propagandas infantis, pergunto-me onde estão os responsáveis por essas crianças para que, ao lado da devida regulamentação do governo, acompanhem o que elas estão assistindo. No entanto, o que vejo (além das exceções, claro) são muitas famílias que simplesmente ABDICAM de suas responsabilidades para com seus filhos: "Deixai ao governo mais esta tarefa; e também deixai as crianças que assistam ao canal aberto sem nenhuma programação infantil, porque, sem nenhuma propaganda, as crianças não terão espaço na frente da telinha, não é mesmo?"
Mas não tem problema: talvez só eu que não saiba que o salário mínimo de todo o povo brasileiro finalmente chegou a um salário digno, que todos nós, finalmente, temos grana suficiente para bancarmos uma Sky, uma Claro HDTV, com desenhos e farta programação infantil, sem comerciais, nos canais fechados.
O problema realmente está na existência de comerciais para as crianças, ou O QUE SE PASSA EM DETERMINADOS COMERCIAIS?
Ah, sei lá... vamos todos para a TV a cabo.
03- "Intervenção do governo já: Crianças não podem assistir ao "BBB", tampouco a beijo gay na novela das nove!!! Isso é um absurdo, um afronte à família brasileira: meu filhinho não pode assistir a um beijo gay entre duas senhorinhas, o que ele pensará da vovó?",
Assim eu ouvi de muitos pais e supostos representantes da família brasileira nos últimos meses...
Ok, senhores pais: não vamos discutir o conteúdo desses dois programas de TV, "novela das 9", ou "BBB".
Vem-me à cabeça uma pergunta um pouco parecida com a anterior sobre a publicidade infantil, mas que julgo ainda mais pertinente tratando-se de programas como as novelas e do tão famoso quanto odiado, mas muito assistido, Big Brother Brasil.
"Que raios uma CRIANÇA está assistindo a esses dois programas de TV uma hora dessas, sendo que, hoje em dia, a faixa etária da programação, devidamente regulamentada, é DISCRIMINADA LOGO NO INÍCIO DESSES PROGRAMAS??? Se a culpa dessas crianças assistirem fosse do governo, poderia estar relacionada exclusivamente à regulamentação, ou seja, à indicação de uma faixa etária que poderia ser equivocada para determinados programas. No entanto, o que vejo na prática são muitos casos o de irresponsabilidade, de perda da autonomia de muitos pais, que, apesar da faixa etária discriminada no início da programação, ainda por cima ASSISTEM A ESSES PROGRAMAS AO LADO DE SEUS FILHOS, quando nem mesmo o governo aconselha como devido!!
Ahhh... mas a justificativa quase sempre acaba no "é tudo, ou é nada". Há em todos os lugares extremistas que aparecem para falar, com muito gosto, simplesmente que "NÃO PODE PASSAR". NÃO PODE PASSAR, porque, SE PASSAR, fato é que muitas famílias não têm autoridade sobre os seus filhos podem, ou não podem, assistir. Por isso conclamam o "paizão Governo" para que, SOZINHO, decida o que eu, você, e os nossos filhos podemos, ou não, assistir. Para esses extremistas, incrivelmente não basta exigir por parte do Estado a faixa etária devidamente indicada, porque, se passar, não tem jeito, o pensamento é o seguinte:
"Meu filhinho, aos cinco anos, já é muito sapeca! não sei o que faço! Sempre o mando para o quarto noite, mas ele sempre quer assistir à novela das nove e ao BBB! Não acredito: como o governo permite que programas passem programas como esse para as criancinhas assistirem? Olha lá, já é quase meia noite, e o meu filhinho não quer ir para o quarto..."
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"Por um país onde livros e educação valham mais que algemas", autor desconhecido, mas que demonstrou profundo conhecimento sobre a história do seu país ao elaborar essa frase. |
04- Vejo cada vez maior clamor pela aprovação de projetos de lei como o "Ficha limpa". Vejo cada vez mais gente se contentando ao acreditar que "só assim NINGUÉM VOTARÁ NO PAULO MALUF". Estou longe de conseguir ler pensamentos, mas percebo gente, consciente ou inconscientemente, simplesmente deixando-se se entregar ao pensamento de que: "Vai vendo: se eu puder votar em tipos como o Paulo Maluf, Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, continuarei elegendo filhotes da ditadura e aloprados que querem que eu seja como eles são. Todos os políticos são iguais".
Onde está pelo menos um mínimo de coerência?????? Jaz escondida por um pensamento ainda latente para boa parte dos brasileiros, quando jogam a responsabilidade ao governo de por suas irresponsabilidades nas urnas, quando três calhordas como esses são democraticamente eleitos Parlamentares ELEITOS em pleno ano de 2012!
"Congresso Nacional: ou você aprova mais projetos como o "Ficha Limpa", que cada vez mais DIMINUEM A MINHA AUTONOMIA DE VOTAR EM QUEM EU QUISER, ou não vou me dar ao trabalho de buscar informações sobre o meu candidato, o seu passado, as suas propostas para o futuro. Se você não tomar alguma atitude para me limitar, Congresso Nacional, você já sabe, as coisas vão continuar como estão:
UMA MERDA".
05- "Estado: Legisle mais, edite mais Leis, edite mais normas! Aumente a repressão! Aumente as infrações, o valor das multas de trânsito para que eu não dirija embriagado!".
Infelizmente, para muitos, a realidade é de que a vida ainda não é respeitada e devidamente considerada como um fim em si mesmo.
Apesar da boa intenção, ao visarmos acabar com as mortes causadas pela embriaguez, muitos de nós nos damos por satisfeitos ao saber que a IMPORTÂNCIA de uma VIDA não é razão por si SÓ SUFICIENTE para que alguém beba a noite inteira e, depois, não pegue um volante irresponsavelmente. Infelizmente, não apenas há pessoas que não dirigem embriagadas porque são conscientes dos danos à sua própria vida e de outrem que podem causar, mas também há pessoas que somente não dirigem bêbadas, POIS NÃO QUEREM PAGAR UMA MULTA.
"Não, não, Estado! para muitos o valor da vida ainda não é o mais importante: MAS E O BOLSO? Ahhh.... O BOLSO??? Esse SIM, Esse SIM O É: POIS VAMOS AUMENTAR O RIGOR DAS MULTAS, ESTADO"
Para muita gente, a partir do bolso, sim, ainda é possível a redução no número de mortes no trânsito quando causadas por pura imbecilidade em razão do álcool. Vez ou outra, até noticiamos índices, de 10%, 15%, 20% na redução de mortes causadas por motoristas embriagados, em razão de mais blitz e o temor às multas de trânsito.
Entretanto, ATÉ QUANDO vamos continuar CONIVENTES com "MENORES ÍNDICES DE MORTES EM RELAÇÃO AO ANO ANTERIOR" ao invés de lutarmos para que NENHUMA MORTE seja novamente CEIFADA PELO ÁLCOOL??? ATÉ QUANDO VAMOS ACEITAR medidas, como a "Lei Seca" e mais blitz, que apenas possibilitam uma REDUÇÃO no número de MORTES NO TRÂNSITO, JÁ QUE O TEMOR PELO VALOR DA MULTA NÃO MOSTRA SER O BASTANTE??????
Em meio ao caos do nosso trânsito cotidiano, além da tristeza que vez ou outra acomete uma família que teve uma vítima, ano após ano quase não ouço nem nas rádios, ou na TV, uma ênfase sobre as únicas mudanças que possibilitaram o Brasil chegar a nenhuma morte no trânsito em razão do alcoolismo, que se darão somente a partir do dia em que todo o povo brasileiro colocar O RESPEITO, O AMOR, A EDUCAÇÃO, A CIDADANIA E A SOLIDARIEDADE AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO. Somente no dia em que a vida, não a multa, for o limite necessário entre uma pessoa bêbada, e um motorista, muitas das nossas mazelas poderão ser superadas.
Chega de "menos mortes", de "redução no índice de acidentes em razão do aumento das multas e da blitz da Lei Seca". Chega de "deixar pra lá", de conclamar ao Estado que editar normas e mais normas para dizerem o que podemos ou não podemos fazer num lugar onde o amor e a educação ainda não têm espaço.
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