quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Prezado Vereador (X)

2º Carta aos Vereadores de Nova Lima
20:34
31/12/2015


1- Prezado Vereador (X),

                Diante da importância da Câmara nos assuntos de relevância da cidade de Nova Lima, gostaria de sugeri-lo a tomada de iniciativa para a resolução de um grave problema que acontece com frequência na rua da praça Coronel Aristides, nº 100, Centro, mas que aparentemente é invisível ou simplesmente tem sido negligenciado pelas autoridades do Estado de Minas Gerais e também da nossa cidade: a condição precária e vexatória de familiares que visitam os cidadãos detidos provisoriamente no Presídio de Nova Lima e o inequívoco desrespeito ao princípio Constitucional da Individualização da Pena no trato a esses visitantes.

         Todos os dias de visita no Presídio fácil é identificarmos essa violação. Em sua maioria formada por mães, esposas, namoradas e crianças pequenas que vão visitar os seus pais, a falta de uma sala de recepção suficientemente digna e adequada agrava não somente as condições  psicológicas dessas pessoas que por si só já são demasiadamente afetadas ao terem que passar pelo desafio de encontrar parte de sua família trancada em uma cela, mas também afeta suas condições físicas, pois, relegadas à própria sorte, várias famílias estão esquecidas nas calçadas, expostas ao sol ou à chuva, sem nenhum tipo de abrigo e cadeiras para que pelo menos os idosos e mulheres com crianças no colo possam se assentar enquanto esperam a abertura do portão. Além disso, de maneira injusta essas pessoas cotidianamente ainda são obrigadas a conviverem com o "olhar curioso", repreensivo, dos muitos transeuntes que passam próximo ao local.

Figura 1 Até então a sombrinha é o único abrigo dos visitantes sob Sol Forte ou da chuva


         O princípio da Individualização da Pena é tão essencial ao Estado democrático e de direito brasileiro que não por acaso foi escolhido pelos constituintes, em 1988, como um direito Individual Fundamental da Constituição da nossa República:

Art.5º, inciso XLV, CRFB:
                "NENHUMA PENA PASSARÁ DA PESSOA DO CONDENADO, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;"

                Infelizmente, porém, raros não são os exemplos de infração não apenas aos direitos daquelas pessoas que estão temporariamente privadas de sua liberdade nos presídios e cadeias do nosso país, mas também aos direitos de seus familiares, que absolutamente nada têm nada a ver com a sentença proferida pelo juiz.

         No Brasil, a falta de condições dignas desde a existência de uma sala de recepção adequada (como em Nova Lima) até à prática de revistas vexatórias às pessoas que visitam parentes na cadeia tão somente contribuem para a humilhação de familiares, que, mesmo nas adversidades, mantêm-se firmes diante da ingerência por parte das nossas autoridades e preconceitos da nossa sociedade com relação à população carcerária e as suas famílias.

         Prezado Vereador Silvânio: não podemos compactuar com essa realidade de submissão e de desrespeito à Constituição da República que tem sido praticada contra dezenas de famílias da nossa cidade e de toda a região nos dias de visita no Presídio de Nova Lima. Tal cenário de subjugação precisa ser repudiado não somente porque seria inaceitável em qualquer outra cidade de país democrático do mundo, mas especialmente porque tem ocorrido em uma cidade como Nova Lima, que está à frente do sistema carcerário de todo o país no quesito capacidade de recuperação de pessoas através de projetos inovadores como a APAC, que são referência para o mundo todo no quesito respeito e reinserção social do ser humano. Dessa forma, além de vivermos num Estado Democrático e de Direito, que necessariamente deve respeitar os direitos fundamentais não por acaso indicados em sua Constituição da República, não podemos continuar compactuando com o tratamento ilegal que tem sido prestado pelo Presídio de Nova Lima nos dias de visita, tratamento diametralmente oposto ao serviço de qualidade prestado por iniciativas como a APAC.

         Como autoridade e representante do povo nova-limense, portanto, convido-lhe a tomar parte nesta situação por meio de medidas efetivas a fim de mudarmos essa inconcebível realidade de violação a direitos fundamentais praticada em nossa cidade.


Figura 2 Sem uma sala de recepção adequada, a calçada que os visitantes se assentam são as           mesmas reservadas á coleta de lixo.


2- O que e com base em que fazer?

                Embora administrativamente o presídio de Nova Lima se sujeite às normas estaduais, o seu contato direto com o público deve se adequar também às normas municipais da nossa cidade. O presídio, como qualquer outro estabelecimento no perímetro de Nova Lima, deve satisfazer a legislação municipal, no que couber, para o seu pleno funcionamento em relação ao contato com o público. Não fundamento tal dever apenas com base "no que eu penso que deveria ser", mas com base no artigo que estabelece a competência dos municípios na Constituição da República de 1988, ao dispor que é da competência do Município:

"Art.30, inciso I - legislar sobre assuntos de interesse local."

                Diante do tratamento ilegal e injustificado que os cidadãos de Nova Lima e região têm recebido nos dias de visita ao presídio da cidade, pergunto-lhe, prezado Vereador: "que outro assunto poderia ser de maior interesse aos nova-limenses do que legislar em prol da garantia de direitos fundamentais, como o da individualização da pena, aos visitantes do presídio da cidade? Que outro assunto poderia ser de maior interesse local do que legislar em prol da defesa de direitos constitucionais como a saúde (Art.6º,CRFB), em sua integralidade física e psíquica, de nova-limenses sentados e esquecidos em calçadas, debaixo de sol quente, chuva, na porta de uma prisão?? Que outro assunto poderia ser considerado de maior interesse local do que adequar o funcionamento e a maneira de lidar com o público de um presídio que possui jurisdição sobre TRÊS CIDADES, mas não oferece nem mesmo um abrigo para que familiares, que tão somente precisam de ajuda em um momento tão difícil como esse, possam encontrar dignamente parte de sua família em um presídio?

         Prezado Vereador: solicito que o senhor, através do poder que nós, nova-limenses, outorgamos-lhe no pleito de 2012, requeira mudanças por parte das autoridades competentes do presídio de Nova Lima. Solicito que o senhor exponha essa situação insustentável do povo nos dias de visita e aponte a necessidade de uma sala de espera para a garantia de tratamento adequado a essas pessoas que nada devem nada à sociedade, tampouco ao Estado de Minas Gerais. Apesar dessa situação insustável, acredito que seja possível que as autoridades competentes, apesar de terem visto, possam não ter percebido essa situação de violação a direitos fundamentais. Diante disso, sugiro-lhe uma carta, sugiro-lhe que o senhor dialogue com as autoridades competentes para que elas resolvam o problema de maneira autônoma.

         Porém, caso o problema não seja celeremente e eficientemente resolvido pelas autoridades responsáveis após requerimento do senhor, sugiro-lhe que, por meio da Câmara Municipal, o senhor faça valer o legítimo poder de representante do povo nova-limense a partir do próprio dispositivo que normatiza constitucionalmente a competência dos municípios brasileiros em legislar sobre "os assuntos de interesse local" (Art. 30, CRFB). Caso as autoridades do Presídio se mantenham inertes, outra alternativa não haverá senão a aprovação de projeto de lei pela Câmara obrigando-a a cumprir o seu dever de individualização da pena, além da garantia do direito á saúde, em sua integralidade psicológica e física, de seus visitantes. A criação de uma sala de espera e a oferta de recepção adequada sem nenhuma dúvida é um assunto de interesse local não somente do nosso município, mas também de toda a região, o que, por si só, legitima a atuação dos nossos Vereadores. A Câmara Municipal de Nova Lima é um órgão autônomo e consolidado, ao que todos nós sabemos e acreditamos. Por isso, para que não perca o seu prestígio, conto com a atuação do senhor e dos demais representantes da nossa cidade para que o interesse do povo não fique relegado em segundo plano, já que a existência de uma sala de recepção adequada num Presídio não é um favor que pode ser prestado pelo Estado, mas sim um direito de todos os brasileiros.

3- INTERVENÇÃO ANÁLOGA BEM SUCEDIDA DO LEGISLATIVO MUNICIPAL NA RELAÇÃO ENTRE ESTABELECIMENTO E POVO

         A exemplo de projeto de lei que a Câmara Municipal de Nova Lima tem a competência para aprovar caso as autoridades responsáveis pelo Presídio se mantenham inertes diante do requerimento do senhor, a seguir aponto uma célebre Jurisprudência dos tribunais brasileiros em que a competência do Município para legislar sobre assuntos de interesse local foi consolidada em relação ao trato de Instituições Financeiras aos munícipes. Tal Jurisprudência é a decisão da Ministra do Superior Tribunal de Justiça -STJ- Eliana Calmom sobre "a obrigatoriedade de instalação de bebedouros, sanitários e assentos nos estabelecimentos bancários". Na decisão, embora houve entendimento por parte da Ministra de que "a regulação do sistema financeiro é da competência da União", essa competência exclusiva Federal não inibe os Municípios de legislar sobre os serviços do sistema bancário com o propósito de proporcionar ao usuário devida segurança e conforto.

Como relatou a Ministra em seu voto:              
                “Não se trata de legislar sobre controle da moeda, política de câmbio, crédito, transferência de valores ou mesmo sobre a organização, funcionamento e atribuições das instituições financeiras, mas tão somente a respeito de regras direcionadas ao melhor atendimento ao usuário”, Eliana Calmom - STJ.

         Analogamente assim também o é com relação ao melhor atendimento ao usuário que DEVE ser prestado pelo atendimento do Presídio de Nova Lima. Não se trata de a Câmara legislar sobre a conveniência, ou não, de um Presídio ou sua estrutura de funcionamento em nossa Comarca: trata-se tão somente de legislar em prol do direito dos visitantes ao melhor tratamento ao usuário em respeito à sua segurança, conforto e atendimento suficientemente digno e adequado.

         Portanto, solicito que o senhor, Prezado Vereador (X), tome parte nessa situação e desde já lhe convido a passar próximo à fila que se forma todos os dias de visita na calçada do Presídio, para também ouvir por parte das dezenas de famílias que estarão na calçada, de baixo de sol forte, ou chuva, o que elas têm a dizer sobre o problema.

         Faz-se necessária a tomada de atitude urgentemente. Não podemos mais consentirmos calados com essa situação nem mais um minuto. Conto com o seu eficiente trabalho na Câmara.



Figura 3 É preciso agir para a garantia dos direitos da população nova-limense


Att;
Luccas Renato Silva de Souza

Um convite à mobilidade urbana

19h54, 31/12/2015

         Como uma das últimas postagens de 2015, finalmente a minha primeira carta a um Vereador da cidade de Nova Lima foi entregue em mãos a um deles no dia 28/12/2015, na sala de espera da Câmara Municipal. Digo "finalmente", tanto porque o meu primeiro contato com um Vereador da minha cidade somente aconteceu agora, com 21 anos, como também porque esta carta esteve guardada há praticamente um ano numa de minhas pastas do computador. Não sei ao certo certo o motivo de tanta demora ao entregá-la, mas, neste momento, preferirei ressaltar finalmente a minha tomada de iniciativa.

         Pois bem, em relação a esta carta, em 2016 o meu objetivo ainda será entregá-la preferencialmente em mãos de cada uma das nove pessoas que até então considero Vereadoras em Nova Lima (apesar de que 10 foram formalmente eleitos nas eleições de 2012). Apesar de ter entrado em contato com cada um dos nove parlamentares da cidade, via email, apenas um prontamente se dispôs a me receber na Câmara Municipal da cidade, apesar de próximo ao início do recesso Legislativo que perdurará até fevereiro de 2016. Até este momento, da disponibilidade dos Vereadores da minha cidade em me receber, não tenho muito a dizer aos meus leitores, pois reconheço que possa ser um pouco difícil marcar novas reuniões quase ao final de um ano legislativo (2015), mas pelo menos posso lhes adiantar o meu otimismo, especialmente diante da pouca, mas proveitosa conversa que tive, com o único Vereador que se dispôs a me receber ainda nesta semana.

 20h09

         Mais um ano está prestes a ser finalizado. Depois de bastante tempo, cá estou eu neste Veraneio a vos escrever, caro leitor! Diante de tantos problemas que eu tenho atualmente (talvez nem tantos em quantidade, mas grandes em intensidade), nestes poucos minutos que escrevo neste Veraneio ao final de 2015 imediatamente eu percebo o quanto eu me sinto melhor!! E isso me faz relembrar que um dos motivos deste Blog ter sido criado, há pouco mais de 5 anos (se não me engano!) é porque eu percebi que pelo menos o pouco que eu escrevia já fazia o meu dia a dia ser muito melhor! 

        Mas, infelizmente, não sei o que acontece: infelizmente/inconsequentemente eu não tenho conseguido dedicar à escrita no mínimo o mesmo tempo que eu a dedicava ainda no Ensino Médio. Já naquela época eu não escrevia com tanta frequência, mas me lembro que sempre que havia um tema que me inquietava bastante  muito provavelmente chegaria também a uma das páginas deste Veraneio! Mas, enfim... Quem sabe a partir de 2016 isso mude? Quem sabe em 2016 eu mude? O que a vida espera de mim em 2016? O que eu espero da vida em 2016? Além de muita saúde, tranquilidade e felicidade á minha família, e a todas e a todos do Universo (o que já seria ótimo!), ao falar especificadamente sobre mim, ainda não sei muito bem o que esperar. Torço para que dê tudo certo, torço para que o meu otimismo que me ganhou durante tanto tempo prevaleça diante de tanto pessimismo que tem me rondado ultimamente. 

         Realmente não sou bom em expressar os meus sentimos; seja pessoalmente, ou não: diante de ninguém. Mas deixo aqui os meus votos para que não só 2016, mas para que todos os anos de nossas vidas sejam ainda melhores e maravilhosos do que todos aqueles que já vivemos. Que sejam melhores a cada dia, que possamos seguir em frente, cada qual o seu caminho e à sua maneira de ver/viver a vida; na busca daquilo que cada um (a) de nós entende ser a Felicidade. Apesar de alguns problemas e de um pessimismo que atualmente tem me prejudicado, acredito (e quero continuar acreditando) que sou uma pessoa Feliz, ou pelo menos quero acreditar que de alguma forma o caminho da Felicidade ainda me é possível. Não tenho certeza quanto à receita para a Felicidade (o caminho para encontrá-la/os caminhos para encontrá-la), mas pelo menos o respeito a todas as pessoas acredito ser um de seus pressupostos.

         Um feliz 2016, Feliz vida a todas e a todos nós!
         Abraço

         Luccas Renato Silva de Souza
         20h26





         Prezado Vereador (X),

         As calçadas, embora mantidas pelos moradores, fazem parte da via pública, por isso estão sob a responsabilidade dos órgãos públicos - no caso, o órgão Municipal.

         Nova Lima é uma cidade histórica. Como sabemos, há casas construídas durante legislaturas do Executivo e do Legislativo Municipal de há pelo menos um século. No entanto, na contramão do tamanho da grandeza e da história de nossa cidade, o direito de locomoção do povo nova-limense tem sido cerceado há décadas, pela falta de planejamento e  até mesmo patrimonialização de muitas das nossas calçadas.

         Em Nova Lima, o desrespeito ao direito de locomoção pode ser visto em diversos bairros. Há calçadas, por exemplo, que não possuem mais que 10 cm de largura para que o povo transite. Além de claramente ser um espaço insuficiente para circulação, muitas estão mal pavimentadas  e até mesmo deterioradas com o tempo, sem cuidado devidamente necessário tanto por parte dos moradores quanto pela prefeitura.

         Prezado Vereador, assim como a idade de muitas das nossas casas, o problema das calçadas é um problema histórico. Muitas delas foram construídas sob a perspectiva de Planos Diretores e concepções diferentes sobre o que era, em cada época, uma calçada devidamente adequada para o trânsito de pedestres. (Bairros como os do Retiro, Vila Operária, Cristais, Boa Vista, Quintas, com residências datadas ainda da década de 1930, são alguns dos principais locais onde os pedestres encontram dificuldades).

         No entanto, o argumento de que foram construídas em outras épocas não pode ser por si só suficiente para que, em 2015, ainda não tenham sido readequadas sob uma concepção de mobilidade urbana razoável e condizente com o século XXI.

         Além da inadequação dos passeios em muitas das nossas casas históricas, no entanto, não podemos nos esquecer de que também muitas são as edificações recém-construídas em nossa cidade que não têm dado a importância suficiente para o problema. Saindo ás ruas, facilmente presenciamos passeios inadequadamente ocupados por rampas de garagem, lixeiras, carros, ou até mesmo que deram lugar à extensão irregular de alguns domicílios - representando um verdadeiro patrimonialismo de uma via pública.

         Em meio à falta de calçadas suficiente dignas em nossa cidade, diversos são os grupos de pessoas cotidianamente prejudicados. Alguns desses grupos especialmente afetados são, obviamente, aqueles que já possuem certa dificuldade de locomoção em decorrência da idade (os idosos) ou em razão de alguma deficiência física (como os cadeirantes). Além, também, do grupo das  mulheres e crianças, que frequentemente são obrigados a competirem com ônibus, carros e motos por um perigoso espaço na rua se quiserem chegar caminhando a algum destino nesta cidade.

         Prezado Vereador, diante deste problema, possivelmente tudo que eu tenha lhe exposto já em algum momento (como representante do povo, ou como cidadão comum nova-limense), o senhor já tenha (assim como eu e vários outros moradores da nossa cidade) pensado sobre o assunto.

         No entanto, com esta carta meu objetivo não é apenas lhe expor tal problema, mas também incentivá-lo a tomar uma atitude, apresentando-lhe, ainda, algumas propostas, que, sem dúvida, se solucionado, tem de tudo para contribuir para a melhoria da qualidade de vida  de todos os cidadãos nova-limenses.

         Como sabemos, o papel da prefeitura em relação às calçadas, de fato, primordialmente é um papel de órgão fiscalizador (até que haja um projeto de lei aprovado dispondo o contrário), é de responsabilidade de cada um de nós a sua preservação; e do órgão municipal a sua devida fiscalização. Diante disso, em caso de um possível acidente causado pela má conservação da calçada, não apenas o morador pode ser responsabilizado civelmente, mas também a Prefeitura, se, como agente Fiscalizador, tiver sido comprovada que a sua omissão concorreu como uma das causas do acidente.

         Portanto, como agente fiscalizador, sabemos que é possível ao órgão municipal coagir todos nós a preservarmos adequadamente nossos passeios por meio de uma sanção pecuniária, ou seja, por meio da multa, caso seja necessária.

         No entanto, em minha opinião, embora seja possível, não acredito que a aplicação de multas aos moradores a fim de coagi-los a preservarem os seus passeios seja uma solução necessária, e até mesmo adequada para a nossa cidade.

         Apesar da possibilidade da aplicação de multas, acredito que o tema de adequação das calçadas é pode ser muito melhor trabalhado e solucionado se órgãos públicos como a Câmara Municipal (por meio de representantes do povo como o senhor) estiverem dispostos a fazer uma parceria ao lado dos cidadãos nova-limenses com o objetivo de conscientizá-los sobre a importância, necessidade e os benefícios para todas e para todos quando preservamos adequadamente as nossas vias públicas, como os passeios, por exemplo.

         Encabeçado por um representante da cidade como o senhor, acredito que seria possível assumirmos uma espécie de  compromisso entre o povo nova-limense e a Câmara Municipal a partir de uma ampla divulgação de informações pela Câmara na imprensa local sobre a importância de preservarmos as nossas vias públicas, o que traria benefício não apenas à conservação das calçadas, mas também à  conservação de quaisquer outros dos mais diversos bens públicos da cidade de Nova Lima (a Banqueta, as Lixeiras públicas, o interior de repartições públicas, o patrimônio público como um todo etc).

         Prezado Vereador, além de uma política pública com ampla divulgação de informações (que tem de tudo para dar certo principalmente se despertadas a vontade, a autonomia e a pró-atividade da população), acredito que uma campanha em prol da mobilidade urbana poderá ser ainda melhor trabalhada se a Câmara Municipal, por meio de Parlamentares como o senhor, também se comprometer a incentivar a população a participar deste movimento a partir da aprovação de  sanções positivas, ou seja, a partir da apresentação e aprovação de projetos de lei que (assim como na cidade de São Paulo) incentivem também pecuniariamente os moradores a readequarem as suas calçadas por meio de incentivos ficais, como, por exemplo, alguma redução de impostos a aqueles moradores que devidamente respeitam o patrimônio público e ainda poupam os recursos do município para a sua manutenção.

         Prezado Vereador, acredito que o senhor, diante da crescente atenção que a mobilidade urbana tem recebido mundialmente, mais uma vez tem a chance de contribuir para o desenvolvimento da nossa cidade tomando partido nesta situação, escrevendo o seu nome na história do município como um político atuante e que não se acomoda enquanto a qualidade de vida do povo estiver sendo considerada apenas em segundo plano, apesar do aparente comodismo de muitos de nós em relação a tema de tamanha importância.

         Acredito que a partir do diálogo entre a Câmara Municipal e o povo nova-limense, conciliando informações e incentivos pecuniários que contribuam e até mesmo possibilitem a moradores de todas as classes sociais terem condições econômicas para readequarem as suas calçadas, além de contribuir para a melhoria da qualidade de vida em nossa cidade,  tem de tudo para, também, contribuir para uma maior e especial aproximação entre os órgãos públicos do município, como a Câmara Municipal, e o cidadão, especialmente em um ano político consideravelmente conturbado em nossa cidade.

         Prezado Vereador (X), se encabeçada pelo senhor,  sem nenhuma dúvida esta campanha em prol da mobilidade urbana  poderá fortalecer (ou até mesmo retomar) a crença de pelo menos aquela parte da população nova-limense que não mais acredita que os políticos da nossa cidade realmente se interessam pelos problemas do cotidiano do povo, e não estão tão distantes das prioridades do município como infelizmente por vezes parece.

         Dessa forma,
         É feito o convite;
         Att;

         Luccas Renato Silva de Souza


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

"Quem foi a pátria que me pariu?"

Parte IV

Manifesto contra a redução da maioridade penal

  A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para a redução da maioridade penal não acontece no Brasil por acaso. Apesar dos inegáveis avanços alcançados pelo Estado brasileiro, em 2015 o seu Direito Penal ainda é bastante criterioso quanto aos destinatários de suas Leis.

  Criadas por um Congresso ainda distante de representar a heterogeneidade do povo brasileiro, os nossos Códigos de Direito e Processo Penal constituem apenas alguns dos lamentáveis reflexos de um sistema político historicamente dominado por uma minoria, que financia candidaturas como se a Política se tratasse de qualquer outro investimento numa bolsa de valores. 

  O sistema carcerário brasileiro é o resultado da desigualdade social histórica. É também a consequência de uma suposta luta que permanentemente travada por aquela parte de cidadãos brasileiros que se auto-denominam representantes da "parte boa e justa da sociedade", na luta contra os demais, os excluídos, que carregam o fardo de serem os "delinquentes que, ao invés de emprego, escolheram a vida fácil do crime". 

  O meu Brasil é belo, é o país onde eu sempre quis viver: terra tão rica de diversidade de vida quanto de recursos. No entanto, admito e não nego que ao mesmo tempo que é tão rico pelas suas belezas, continua um país demasiadamente pobre, ao se manter obrigado obrigando a praticar CRIMES contra a sua própria gente. 

   Em pleno século XXI, o povo brasileiro infelizmente ainda é confundido como sinônimo simplesmente daquilo que uma MAIORIA da população acredita. Por outro lado, as minorias (ou até mesmo aquelas maiorias que, apesar de votarem, ainda não possuem o unidade e poder político em suas próprias mãos), continuam marginalizadas, subjugadas socialmente,  violentadas por um sistema que ainda permite que um berço de ouro continue sendo um dos fatores preponderantes para que alguém "vença na vida", respaldado por uma falsa demagogia meritocrática que em nada se preocupa se todos nós demos a largada a partir de um mesmo ponto de partida.

  Caracterizo-me pelo meu otimismo com relação ao futuro político do meu país e dos meus conterrâneos. Mas admito que não é fácil levantar a cabeça e acreditar que o reconhecimento como NAÇÃO ainda é apenas um MITO para muitos brasileiros. Vejo muita gente que não consegue enxergar o outro não apenas como um cidadão deste país (com os mesmos direitos, também dono deste lugar), mas muita gente que nem mesmo consegue enxergar o outro como Pessoa. 

  "Acumular para si e afastar o diferente"Ao invés do verde e amarelo e da "Ordem e Progresso", essa é a frase que leio na bandeira de pessoas há pouco não pareciam muitas, mas que na verdade representam milhões de intolerantes, com os rostos de Bolsonaros e Felicianos enrustidos no lugar das 27 estrelas. Vejo brasileiros contra brasileiros, querendo que o Estado "legalmente" tenha o poder cada vez maior de trancafiar as nossas crianças e os nossos irmãos, como se tudo isso pudesse ser levado a sério.  


  Abaixo, compartilho uma música que retrata uma dentre muitas outras das nossas mazelas. É descrita a realidade dos milhões de brasileiros a quem a justiça ainda é cega, tardia e falha. 

Manifesto contra a redução da maioridade penal

Parte III
Seja jogado (a)
ao inferno

01-Redução da maioridade penal;
02- Proibição dos comerciais infantis;
03- Cada vez mais pais reclamando que "a novela das oito, ao mostrar um beijo entre duas senhoras, é um mau exemplo para as crianças e a família brasileira";
04- Cada vez mais gente que exige por parte do Congresso Nacional a aprovação de projetos de Lei como o "Ficha Limpa". Gente que se acomoda ao acreditar que "somente dessa forma o Paulo Maluf não será eleito";
05- Motoristas que não pensam duas vezes antes de beber e pegar o volante não pelo temor aos estragos que podem causar, mas agora pensam duas vezes, antes de dirigem embriagados, "porque o valor da multa de trânsito aumentou", "porque agora haverá mais blitz da Lei Seca".

Dentre essas 5 mazelas, vejo uma coisa em comum em cada uma:

Penso que, ao invés de tanta gente ainda acreditar que, por exemplo, "a redução da maioridade penal para os 16 anos acabaria com a criminalidade", poderia começar a conversar consigo mesma e, quem sabe, se permitir uma "REDUÇÃO DA MAIORIDADE DE SUA PRÓPRIA  CONSCIÊNCIA".

Sempre foi dito que o "Estado brasileiro interfere demais na vida das pessoas: são impostos daqui, multas dali...". No entanto, hoje em dia, tenho pensado se o Estado brasileiro se mostra cada vez mais interventor nas nossas liberdades individuais "porque quer", ou se o nosso Estado cada vez mais interfere nas nossas vidas e liberdades é porque parte da população brasileira simplesmente está ABDICANDO de parcelas da sua AUTONOMIA, deixando para o governo muitos dos seus problemas, que poderiam ser resolvidos até mesmo dentro de suas próprias casas, ou até mesmo dentro de  suas próprias consciências e preconceitos.

01- Redução da maioridade Penal.
  Vejo em noticiários que adoram o sangue alheio, dia a após dia, uma suposta luta permanente travada pela "parte boa da sociedade" ao pressionar o Estado para protegê-la contra aqueles  pejorativamente considerados como "marginaizinhos". 

Ouço essa parte da sociedade brasileira, que se auto-intitula como "boa e justa", com a audácia de dizer, de cara limpa, na tela da minha TV:

"Que educação que nada! É criminoso simplesmente porque quis, porque escolheu". Ouço intolerância, insensatez, estupidez e insensibilidade de calhordas que ainda por cima são muito bem remunerados para disseminarem o ódio e o terror à nossa população (travestidos de jornalistas, José Luiz Datena, Raquel Sheherazade, Marcelo Resende e Carlos Vianna, etc).  Indivíduos que em nada se importam com a obrigação ética de sua categoria, ou pelo menos em se atentar para as verdadeiras causas dos problemas que acometem o nosso povo. Não: tão somente abrem a boca para críticas, desmoralização, e para conclamar o Estado a agir  de acordo com uma suposta necessidade de aumentar o rigor das nossas Leis Penais, a fim de julgarem os "delinquentes mirins", que "escolheram a vida fácil  do crime". 

http://renajoc.org.br/reducao-golpe-cunha/


02- "Não às campanhas publicitárias infantis. Não basta regulamentá-las: DEVEM SER PROIBIDAS!".

Será mesmo que a publicidade infantil precisa ser proibida?
Por quê? 

Quando vejo tantos pais pressionando o Estado no sentido de proibir as propagandas infantis, pergunto-me onde estão os responsáveis por essas crianças para que, ao lado da devida regulamentação do governo, acompanhem o que elas estão assistindo. No entanto, o que vejo  (além das exceções, claro) são muitas famílias que simplesmente ABDICAM de suas responsabilidades para com seus filhos: "Deixai ao governo mais esta tarefa; e também deixai as crianças que assistam ao canal aberto sem nenhuma programação infantil, porque, sem nenhuma propaganda, as crianças não terão espaço na frente da telinha, não é mesmo?"

Mas não tem problema: talvez só eu que não saiba que o salário mínimo de todo o povo brasileiro finalmente chegou a um salário digno, que todos nós, finalmente, temos grana suficiente para bancarmos uma Sky, uma Claro HDTV, com desenhos e farta programação infantil, sem comerciais, nos canais fechados. 

O problema realmente está na existência de comerciais para as crianças, ou O QUE SE PASSA EM DETERMINADOS COMERCIAIS? 

Ah, sei lá...  vamos todos para a TV a cabo.

03- "Intervenção do governo já: Crianças não podem assistir ao "BBB", tampouco a beijo gay na novela das nove!!! Isso é um absurdo, um afronte à família brasileira: meu filhinho não pode assistir a um beijo gay entre duas senhorinhas, o que ele pensará da vovó?", 

Assim eu ouvi de muitos pais e supostos representantes da família brasileira nos últimos meses...

Ok, senhores pais: não vamos discutir o conteúdo desses dois programas de TV, "novela das 9", ou "BBB". 
 
 Vem-me à cabeça uma pergunta um pouco parecida com a anterior sobre a publicidade infantil, mas que julgo ainda mais pertinente tratando-se de programas como as novelas e do tão famoso quanto odiado, mas muito assistido, Big Brother Brasil.

"Que raios uma CRIANÇA está assistindo a esses dois programas de TV uma hora dessas, sendo que, hoje em dia, a faixa etária da programação, devidamente regulamentada, é DISCRIMINADA LOGO NO INÍCIO DESSES PROGRAMAS??? Se a culpa dessas crianças assistirem fosse do governo, poderia estar relacionada exclusivamente à regulamentação, ou seja, à indicação de uma faixa etária que poderia ser equivocada para determinados programas. No entanto, o que vejo na prática são muitos casos o de irresponsabilidade, de perda da autonomia de muitos pais, que, apesar da faixa etária discriminada no início da programação, ainda por cima ASSISTEM A ESSES PROGRAMAS AO LADO DE SEUS FILHOS, quando nem mesmo o governo aconselha como devido!! 

Ahhh... mas a justificativa quase sempre acaba no "é tudo, ou é nada". Há em todos os lugares extremistas que aparecem para falar, com muito gosto, simplesmente que "NÃO PODE PASSAR". NÃO PODE PASSAR, porque, SE PASSAR, fato é que muitas famílias não têm autoridade sobre os seus filhos podem, ou não podem, assistir.  Por isso conclamam o "paizão Governo" para que, SOZINHO, decida o que eu, você, e os nossos filhos podemos, ou não, assistir. Para esses extremistas, incrivelmente não basta exigir por parte do Estado a faixa etária devidamente indicada, porque, se passar, não tem jeito, o pensamento é o seguinte:

"Meu filhinho, aos cinco anos, já é muito sapeca! não sei o que faço! Sempre o mando para o quarto noite, mas ele sempre quer assistir à novela das nove e ao BBB! Não acredito: como o governo permite que programas passem programas como esse para as criancinhas assistirem? Olha lá, já é quase meia noite, e o meu filhinho não quer ir para o quarto..."

"Por um país onde livros e educação valham mais que algemas", autor desconhecido, mas que demonstrou profundo conhecimento sobre a história do seu país ao elaborar essa frase.

04- Vejo cada vez maior clamor pela aprovação de projetos de lei como o "Ficha limpa". Vejo cada vez mais gente se contentando ao acreditar que "só assim NINGUÉM VOTARÁ NO PAULO MALUF".  Estou longe de conseguir ler pensamentos, mas percebo gente, consciente ou inconscientemente, simplesmente deixando-se se entregar ao pensamento de que: "Vai vendo: se eu puder votar em tipos como o Paulo Maluf, Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, continuarei elegendo filhotes da ditadura e aloprados que querem que eu seja como eles são. Todos os políticos são iguais".

 Onde está pelo menos um mínimo de coerência?????? Jaz escondida por um pensamento ainda latente para boa parte dos brasileiros, quando jogam a responsabilidade ao governo de por suas irresponsabilidades nas urnas, quando três calhordas como esses são democraticamente eleitos Parlamentares ELEITOS em pleno ano de 2012! 

"Congresso Nacional: ou você aprova mais projetos como o "Ficha Limpa", que cada vez mais DIMINUEM A MINHA AUTONOMIA DE VOTAR EM QUEM EU QUISER, ou não vou me dar ao trabalho de buscar informações sobre o meu candidato, o seu passado, as suas propostas para o futuro. Se você não tomar alguma atitude para me limitar, Congresso Nacional, você já sabe,  as coisas vão continuar como estão:  

UMA MERDA".

05- "Estado: Legisle mais, edite mais Leis, edite mais normas! Aumente a repressão! Aumente as infrações, o valor das multas de trânsito para que eu não dirija embriagado!".

 Infelizmente, para muitos, a realidade é de que a vida ainda não é respeitada e devidamente considerada como um fim em si mesmo

Apesar da boa intenção, ao visarmos acabar com as mortes causadas pela embriaguez, muitos de nós nos damos por satisfeitos ao saber que a IMPORTÂNCIA de uma VIDA não é razão por si SÓ SUFICIENTE para que alguém beba a noite inteira e, depois, não pegue um volante irresponsavelmente. Infelizmente, não apenas há pessoas que não dirigem embriagadas porque são conscientes dos danos à sua própria vida e de outrem que podem causar, mas também há pessoas que somente não dirigem bêbadas, POIS NÃO QUEREM PAGAR UMA MULTA.

 "Não, não, Estado! para muitos o valor da vida ainda não é o mais importante: MAS E O BOLSO? Ahhh.... O BOLSO??? Esse SIM, Esse SIM O É: POIS VAMOS AUMENTAR O RIGOR DAS MULTAS, ESTADO"

Para muita gente, a partir do bolso, sim, ainda é possível a redução no número de mortes no trânsito quando causadas por pura imbecilidade em razão do álcool. Vez ou outra, até noticiamos índices, de 10%, 15%, 20% na redução de mortes causadas por motoristas embriagados, em razão de mais blitz e o temor às multas de trânsito.

 Entretanto, ATÉ QUANDO vamos continuar CONIVENTES com "MENORES ÍNDICES DE MORTES EM RELAÇÃO AO ANO ANTERIOR" ao invés de lutarmos para que NENHUMA MORTE seja novamente CEIFADA PELO ÁLCOOL??? ATÉ QUANDO VAMOS ACEITAR medidas, como a "Lei Seca" e mais blitz, que apenas possibilitam uma REDUÇÃO  no número de MORTES NO TRÂNSITO, JÁ QUE O TEMOR PELO VALOR DA MULTA NÃO MOSTRA SER O BASTANTE??????

 Em meio ao caos do nosso trânsito cotidiano, além da tristeza que vez ou outra acomete uma família que teve uma vítima, ano após ano quase não ouço nem nas rádios, ou na TV, uma ênfase sobre as únicas mudanças que possibilitaram o Brasil chegar a nenhuma morte no trânsito em razão do alcoolismo, que se darão somente a partir do dia em que todo o povo brasileiro colocar O RESPEITO, O AMOR, A EDUCAÇÃO, A CIDADANIA E A SOLIDARIEDADE AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO. Somente no dia em que a vida, não a multa, for o limite necessário entre uma pessoa bêbada, e um motorista, muitas das nossas mazelas poderão ser superadas.



 Chega de "menos mortes", de "redução no índice de acidentes em razão do aumento das multas e da blitz da Lei Seca". Chega de "deixar pra lá", de conclamar ao Estado que editar normas e mais normas para dizerem o que podemos ou não podemos fazer num lugar onde o amor e a educação ainda não têm espaço.
http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/05/onu-alega-que-violencia-pode-ser-agravada-com-reducao-da-maioridade-penal.html

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Manifesto contra a redução da maioridade penal


Parte II

  Questionado por um colega sobre a minha opinião em relação à redução da maioridade penal, iniciei a minha resposta a partir de um comentário que um competente professor de Direito Penal disse-me em sala de aula:

  "Vocês acreditam que o Direito Penal é o responsável por conter a criminalidade no Brasil? 

  Vamos à cidade brasileira onde os extremos ficam mais visíveis: Rio de Janeiro. 

  Por exemplo: vocês realmente acreditam que uma pessoa que mora sem pelo menos saneamento básico, numa favela, no Rio, que se depara, todos os dias, em frente ao seu morro, com vários condomínios de luxo e uma vida demasiadamente abastada do outro lado do muro, não pratica nenhum crime é porque teme o Código Penal, ou vocês (assim como eu) devidamente acreditam que há algo muita mais forte, que incentiva indivíduos como esse a não abandonar a batalha do dia a dia, e continuar acreditando que o crime (por incrível que pareça, muitas vezes) ainda não é o melhor caminho para mudar de vida?

  Respondam-me: é a truculência da polícia militar e a existência de um Código Penal, com o rigor de suas leis, ou é algo muito mais forte, relacionado ao foro íntimo, como o esforço redobrado de cada um e de uma família desde sempre marginalizada os fatores que realmente impedem que a criminalidade em nosso país de fato dispare?"

  Após o comentário, antes de dizer ao meu colega "se eu era a favor ou contra a redução", fiz-lhe algumas perguntas:

  01-"Diga-me: você saberia me dizer como é a situação das prisões no Brasil?"

  02-"Você ouviu a declaração do nosso Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, sobre o sistema carcerário do nosso país? Segundo o Ministro, ao invés de passar alguns anos numa de nossas das nossas prisões, ele preferiria a morte, como uma pena menos dolorosa. Você tem alguma coisa a me dizer sobre isso?

  03- "Para você, que já ouvir falar sobre os Racionais MC´s. Já ouvi você cantando a música, mas gostaria de saber se você realmente concorda com o que disse Ice Blue, em "Mágico de Oz": 

"Dizem que quem quer segue o caminho certo, ele se espelha em quem tá mais perto": E aí: gostaria de saber se você só canta, ou se também concorda com o Rapper. 

  04-"Diante das notícias nos rádios e na TV que apontam para o aumento da criminalidade (através de jornalistas que não possuem nenhum compromisso com o povo, a não ser com os números do IBOPE e com os seus valiosos acordos publicitários), você saberia me dizer qual é o tipo de crime cometido por 80% dos (as) brasileiros(as) atualmente privados de liberdade??"

  Depois das perguntas, seguiu-se um momento de silêncio. Um silêncio que aparentemente não perturbava só a mim. Então, quando decidi indagar outros questionamentos, como resposta, meu colega respondeu-me: 
   
  "Eu sei".

  Então, se você sabe, por favor, responda-me o seguinte: O que você espera de uma pessoa que vive na pele o exemplo dado em sala de aula pelo meu professor? Além disso, quero saber o que você espera de um ser humano que passe pela experiência de uma cadeia brasileira. Embora não deixe de ser considerado um delito, você não acredita que seja pelo menos compreensível caso um sujeito como o retratado no exemplo, em algum momento de sua vida, se envolva num crime para não morrer de fome, ou até mesmo para conseguir alguns daqueles bens que a sociedade insiste em lhe dizer que "precisar tê-los para ser alguém" (carro de luxo, joias, etc), tornando-se mais um miserável a cair na estatística dos 80% de brasileiros que estão atualmente presos em razão de crimes contra o patrimônio

  Sobre a redução da maioridade penal: estamos falando um problema do Direito Penal, ou, na verdade, de DESIGUALDADE SOCIAL?

  Meu camarada: isso é tudo o que eu tenho a lhe dizer sobre farsa que gira em torno de uma possível redução da maioridade penal no Brasil.



"Prisões no Brasil são medievais e seria melhor morrer do que ficar preso por anos", Eduardo Cardoso, Ministro da Justiça. http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/11/13/prisoes-no-brasil-sao-medievais-afirma-ministro-da-justica.htm

  Meu comentário à declaração do ministro Eduardo Cardozo:

 Apesar de, pelo menos aparentemente, o nosso Ministério da Justiça se mostrar atento à degradante situação carcerária do país, medidas práticas infelizmente ainda estão ao bel prazer e conveniência dos nossos governos Federal e Estadual. Infelizmente, como os sujeitos apreendidos em nossas cadeias têm temporariamente suspensos o título de eleitor, além de não serem consideradas as suas vozes nas urnas, também falta apoio político e vontade por parte de toda a população e dos nossos representantes em olhar para as verdadeiras CAUSAS da criminalidade. Em pleno 2015, continuamos em um jogo de soma zero, afogados em falsos debates que em nada contribuem, ainda pautados sobre ideias carregadas de ódio e de preconceito, que nos impossibilitam uma a adoção de políticas de repreensão ao crime que não estejam exclusivamente confinadas ao orçamento que impreterivelmente é reservado e garantido, todos os anos, à nossa truculenta polícia militar para comprar o seu armamento que será utilizado principalmente contra o povo mais pobre. Enquanto isso, em 2015, o salário digno para os professores, o dinheiro desviado da merenda ou do transporte escolar, entre outras mazelas, continuam a esconder a opção duradoura e que realmente seria condizente com a forma de Estado a qual o Brasil se auto-reconhece: Democrático e de Direito. 

  EU QUERO MAIS EDUCAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DE OPORTUNIDADES, POR FAVOR.

Manifesto contra a redução da maioridade penal

Parte I
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/90-apoiam-reducao-da-idade-penal-c8e24o0vlosyiway5n00aryvi

  Acredito que a maior parte das pessoas contrárias à redução da maioridade penal não o são simplesmente porque acreditam que os jovens que cometem atos infracionais não merecem algum tipo de resposta da sociedade e do Estado. No entanto, penso que, assim como eu, a maioria dessas pessoas só devidamente não acredita que o que não pode acontecer é o Estado brasileiro fixar arbitrariamente qualquer tipo de repressão à criminalidade que não seja, no mínimo, com a finalidade de garantir a todas e a todos um verdadeiro ACESSO À ORDEM JURÍDICA JUSTA.

  A mera apresentação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) com o objetivo de reduzir a menoridade nada mais é do que uma insensatez compactuada não apenas por pessoas supostamente consideradas "Parlamentares" em nosso Congresso Nacional, mas também por quem, aqui, "do lado de fora", ainda insiste em não olhar para as CAUSAS da criminalidade, não apenas para as suas CONSEQUÊNCIAS.

  Se aprovada a PEC, todos nós, brasileiros, poderemos ter a certeza de que sim, pelo menos uma coisa será modifica dentro do submundo das nossas masmorras carcerárias: teremos a certeza de que o país com a terceira maior população de presidiários do mundo (que não por acaso é a brasileira, diante da suas injustiças e desigualdades históricas) não mais será composta majoritariamente por pobres, negros, marginalizados, adultos, a partir dos 18  anos de idade. Se aprovada, a PEC  da maioridade Penal, além de representar o atestado de incompetência e insensibilidade brasileiras, dará o aval para que o Estado, através da Polícia Militar, "Legalmente" apreenda também muitos dos filhos desses mesmos indivíduos maiores de 18 anos que há décadas estão à merce do Direito Penal brasileiro, esquecidos nas cadeias do mesmo país onde o seu Ministro da Justiça, ao ser questionado se escolheria a morte ou a passar alguns anos num presídio brasileiro, escolheu a morte, com a certeza de que seria uma pena menos cruel.