sábado, 9 de novembro de 2013

O que pode explicar a estratificação de gênero no Brasil?

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              Para inúmeros problemas do nosso país, neste ano de 2013, minha opinião é de que muitos deles são causados pelo conservadorismo de muitos dos nossos costumes. Sinceramente não sei se “conservadorismo dos nossos costumes” possa parecer um tanto quanto redundante (se no próprio costume fica inerente seu conservadorismo), mas não abriria mão deste determinante ao ainda presenciar mazelas como a estratificação de gênero num país tão miscigenado como o Brasil.

             No entanto, se é que existe algum culpado, infelizmente ainda não tenho certeza. Ou melhor, se há pelo menos uma culpa por dolo. De fato, numa sociedade fundada sobre preconceitos, as mulheres constituem um dos grupos sociais mais marginalizados deste país. No entanto, por mais incrível que possa parecer (pelo menos a priori), não consigo imaginar que fruto de uma decisão individual consciente algum homem ainda possa acreditar numa possível situação superior sua em relação às mulheres.

               Acredito que muitos dos valores dos quais o nosso país ainda preza como primordiais não só o subjuga ao comando de uma elite hegemônica, capaz de controlar grandes mídias tradicionais para seus objetivos econômicos, mas também o mantem arraigado sob uma série de preconceitos conservadores, que em nada contribuem para a construção de uma sociedade igualitária, com respeito às diferenças.

              O vídeo que assisti durante uma aula de S. Jurídica¹, especificamente, sintetiza a visão de subjugação que ainda existe entre gêneros também em países considerados “desenvolvidos”, como o Canadá, idêntica ao Brasil. Não só presente mas também cultivada pelo mercado publicitário, visão arcaica que quase sempre é assimilada sem devida reflexão pela maioria de nós. Retomando a questão de possível culpado dessa visão (pelo menos considerando-a como fruto de uma vontade consciente de subjugação das mulheres), por meio de dados, vemos também os próprios homens como vítimas de seus preconceitos, arraigados numa sociedade que não respeita a si mesma, muito menos o considerado diferente.

                Também numa aula de S. Jurídica, li uma reportagem relatando o estupro de uma jovem israelense² a qual acredito sustentar minha opinião. Assim como um juiz aposentado, candidato preferido do primeiro-ministro de seu país a presidir o Tribunal interno de um partido consegue imaginar alguma possível satisfação da mulher durante o estupro, não vejo outra justificativa a não ser o peso que falácias e costumes ainda podem desempenhar sobre qualquer um de nós, independente de classe social ou escolaridade.

             “Juntos e misturados”. No Brasil, difícil é nos considerarmos negros ou brancos, afinal nossas raízes estão muito além das nossas características físicas. No entanto, numa sociedade ainda bastante conservadora e preconceituosa, não seria hipócrita a ponto de não dizer que a cor da pele e o seu gênero “dizem muito sobre quem você é”. 

                 Neste momento, não me lembro ao certo ter sofrido alguma discriminação do tipo (talvez tão somente por ser homem e ser considerado branco). No entanto, ao falar sobre o assunto, me lembro de presenciar um homem no início deste ano, olhando para uma manifestante descamisada, durante a Marcha das Vadias, dizer algo do tipo: “Tá vendo? Depois elas querem que a gente respeite”.

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¹ http://www.youtube.com/watch?v=HaB2b1w52yE, vídeo com as representações das mulheres e dos homens pelos comerciais de TV no Canadá.

²Leia a reportagem na íntegra:

 Reprodução/haaretz.com
"Algumas meninas gostam de ser estupradas", diz juiz durante julgamento em Israel              
Depois de polêmica, juiz perdeu apoio do premiê Netanyahu

Ao afirmar que "algumas meninas gostam de ser estupradas", durante a audiência de um caso de estupro de uma menor, hoje com 19 anos, um juiz causou polêmica entre a população de Israel. A declaração foi feita pelo aposentado Nissim Yeshaya, que  continua atuando em alguns casos de apelação institucionais 
no Distrito de Tel Aviv.

Segundo a imprensa nacional, o magistrado surpreendeu os participantes da audiência da Comissão de Apelação da Previdência Social, realizada nesta terça-feira (5), com o comentário, gerando protestos revoltados e condenações de todo o espectro político local. Na ocasião, a vítima não estava presente.

Após o comentário, foi pedido a interdição imediata de Yeshaya, aposentado há quatro anos e que atua como presidente de tribunais administrativos e de orientação. O pedido foi feito à ministra da Justiça, Tzipi Livni, pela presidente da comissão parlamentar para o Status da Mulher, Aliza Laví.

O crime

A jovem tinha 13 anos quando foi violentada por quatro palestinos. A advogada de defesa, Aloni Sadovnik, descreveu a declaração do juiz à rádio do exército israelense. "Ele nem sequer percebeu o que acabava de dizer. Não entendia por que todo mundo estava em silêncio ao mesmo tempo."

Após a polêmica, Yeshaya tentou se defender. "Estão tentando conseguir publicidade às minhas custas. Eu não acho que a vítima de um estupro não sofra danos com ele ou que o estupro não seja um crime grave. [Meus comentários] foram mal interpretados."

O juiz era o candidato preferido do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a presidir o Tribunal interno do partido Likud, mas hoje o governante retirou seu apoio porque "uma pessoa que se expressa assim não merece o cargo".

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