Em meio a inúmeros protestos e
reivindicações, os meses de abril a julho de 2013 representaram um marco na
vida política brasileira. Se antes a insatisfação da população com
os rumos do país se manteve refém do silêncio de políticos e das mídias
tradicionais, em conjunto, o povo decidiu sair às ruas em busca dos seus
direitos.
Das manifestações que ocorreram, muitos
brasileiros puderam finalmente resgatar o espírito revolucionário do nosso
povo, que, ao contrário do que muitos pensam, em nenhum momento da nossa
história se contentou com a hegemonia das classes minoritárias.
Com os movimentos sociais que se
insurgiram, também presenciamos o claro posicionamento reacionário de clãs
familiares que ainda se mantêm no poder por meio da manipulação da opinião e da
administração pública. Famílias que insistem em usurpar o patrimônio
e a ideologia pública brasileira para interesses particulares, jornalistas e políticos que
durante semanas simplesmente uniformizaram como vândalos milhares de pessoas
que foram duramente reprimidas por “cães de guarda” treinados para combater os
seus próprios semelhantes.
Mesmo respeitando, infelizmente
presenciei também durante algumas semanas posicionamentos contrários de amigos
às manifestações. Cada um com seus argumentos criticaram duramente o movimento,
o que me fez refletir acerca do assunto.
Dentre várias opiniões, contudo,
percebi que muitas justificativas por parte dos que não concordavam possuíam
semelhanças. Semelhanças essas que punham em xeque a validade do movimento pelo
não posicionamento anterior do povo frente a assuntos possivelmente mais
importantes, como a PEC 37 e o projeto conhecido como “Cura Gay”. Além disso,
questionamentos quanto à sua eficácia, considerando-se a falta de líderes às manifestações,
o que facilitaria, segundo alguns, a manipulação dos movimentos, por alguma
entidade com o objetivo de dar um golpe.
Pois bem, para mim, o que tive certeza
com essas respostas e que, creio, continuará me intrigando ao longo de minha
vida é o conservadorismo, o costume radical e até mesmo, desculpem-me o termo,
a quantidade de pessoas caretas que vivem em nosso país em pleno século XXI.
Isso, fato também que infelizmente reflete inúmeros problemas que ainda existem
neste país, como preconceito, homofobia e qualquer outro tipo de discriminação
em geral.
Das opiniões contrárias aos movimentos, o que pude entender foi o peso que falácias e tradições ainda têm em nosso país. Por exemplo, da história que dizem que “O Gigante Acordou”. Hoje, já não tenho mais dúvidas da precariedade não só de boatos conservadores que rondam o Brasil, mas também da má influencia de muitos livros didáticos de autores que simplesmente desconstroem a historiografia do nosso país, retratando-nos apenas como um povo omisso, apaixonado e cego pelo futebol, avesso a qualquer participação de fatos importantes que transformaram a nossa história.
História essa a mesma que considera que
o povo apenas assistiu à Independência bestializado, de que a escravidão fora
abolida no Brasil apenas pela pressão inglesa e de que todos os governos que se
aproximaram das massas foram meramente assistencialistas, populistas e
caçadores de votos.
Dos movimentos em 2013, o que houve foi
um resgate da vontade política em nosso país em retomar o direito de poder
escolher sobre o seu futuro assim como nossos antepassados lutaram
para permitir que milhões de pessoas possam sair às ruas hoje em busca
daquilo que acreditam.
Em relação à falta de um possível sentido, um foco, e de líderes que, possivelmente, poderiam dar Unidade a estes movimentos, minha opinião também é contrária. Em nada podem ser considerados inferiores estes movimentos por não terem sido convocados por uma Central Sindical ou por um partido político específico, por exemplo. Aliás, o modo como foram organizadas as nossas manifestações refletiram uma tendência mundial de movimentos horizontais, um passo importante para a maturidade do Brasil, que vive numa democracia ainda jovem, que permite, sim, a participação direta do povo na sua construção.
Contudo, mesmo criticados por não terem um possível foco definido, ao
contrário, acredito que houve sim um algo que uniu e que possibilitará a todos
esses movimentos surtirem efeitos não só agora, mas também ao longo das
décadas.
Dos
vários cartazes exigindo os mais diversos direitos, em todos eles pode ser
visto uma vontade homogênea por maior participação política, por maior respeito
dos agentes públicos que se encontram no poder que é do povo e por maior
dignidade à população que não suporta mais encarar escândalos que afrontam o
povo brasileiro.
Definitivamente, o gigante não acordou. Isso, pois, garanto a vocês que o
Brasil nunca havia dormido. Na verdade,
passamos neste momento por uma consolidação da nossa confiança e aos
poucos entendemos que somente juntos superaremos as desigualdades enraizadas
neste país e a crise Institucional a qual estamos à beira do abismo.
Amplamente apoiado pela maioria dos brasileiros,
oito em cada dez, segundo o DataFolha, devo admitir que não concordo com tudo o
que aconteceu nessas manifestações. Infelizmente, assim como houve milhões de
pessoas que foram às ruas de maneira pacífica para lutar pelos seus direitos,
de fato minorias exaltadas se rebelaram por meio de caminhos não democráticos
contra a ordem pública autoritária, o que não se justifica. Entretanto, mais do
que simplesmente condenar essa minoria e cunhá-la como vândala, é plausível
entendermos que poucas pessoas tiveram oportunidades, quiçá privilégios, de
aprenderem dentro de uma escola ou em suas casas que o povo não precisa
utilizar da violência para transformar o seu futuro, mas sim de DEMOCRACIA, a qual nos garante o poder legítimo de mudarmos o nosso país de maneira legítima.
A
todos, incentivo participarem desse momento tão importante da história do Brasil. Como podemos ver, o que muitos criticavam que supostamente não dávamos a devida
importância como a PEC 37 e a “Cura Gay” foram barrados no Congresso, sem dúvida alguma, devido às manifestações. Além disso, embora ainda poucas,
outras importantes conquistas já foram alcançadas, como royalties do pré-sal
destinados à educação e à saúde, projeto que estava engavetado nos arquivos de
Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, que dificilmente seria votado.
Quero deixar claro que em hipótese
alguma quero que vocês simplesmente concordem com a minha opinião sem devida
reflexão sobre o assunto. Realmente, o que escrevi acima não posso garantir a
ninguém que esteja correto, que seja verídico. Mas, digo a vocês, que ainda acredito no poder do povo. Por favor, vamos dar crédito ao movimento para mantermos viva a vontade pela transformação da organização da nossa sociedade, a qual penso ter chegado infelizmente num estágio insuportável de irracionalidade. VAMOS, BRASIL!
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Pampulha, junho de 2013 |
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