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Tempestade Cerebral de dezembro |
“Segundo o especialista...”, “Faça isso, pois
é palavra de especialista!”, “De acordo com...”.
"Com quem você acha que está falando? Eu sou é Doutor!"
"Com quem você acha que está falando? Eu sou é Doutor!"
Já não bastasse a quantidade de "especialistas"
que supostamente emitem opiniões mais dignas que um cidadão considerado comum, agora
querem nos fazer engolir especialistas até em propaganda de Lasanha e de
Salsicha.
Não só ao final de inúmeras reportagens os
tais especialistas são normalmente chamados de "doutores" e procurados por jornalistas para
supostamente “darem valor” a tudo aquilo que eles dizem durante uma reportagem
(nos consultórios médicos, ou nos escritórios de advocacia, por exemplo),
mas agora também se PROLIFERAM "com
nomes bacanas, difíceis" nos comerciais de TV, e no mínimo uma pitada de petulância
ao tentarem me fazer acreditar que eu estou precisando de especialista até para escolher a salsicha do meu cachorro-quente, ou a minha lasanha.
Ah... Fala sério!
Às vezes me pergunto: “Quem são os
especialistas? Quais os critérios utilizados para se tornar um especialista?
Quem são os especialistas que criam os critérios para que alguém se torne um
especialista? Quanto eu devo duvidar menos do que um "especialista” me
diz do que de um outro cidadão que é considerado comum só porque não se
enquadra em determinados critérios?”
Uma coisa eu lhe digo, minha amiga, meu amigo: cuidado com a Supremacia
dos Especialistas e a patrulha da racionalidade. Pelo menos eu já estou de
olho, claro! Vai que além de me darem "dicas" (serão mesmo só dicas?)
sobre qual salsicha de cachorro-quente ou lasanha "eu devo comer",
eles também decidam, algum dia, que eu sou tão burrinho, mas tão
burrinho, que eu não só não sei escolher lasanha ou salsicha para
cachorro-quente, mas que também não tenho a capacidade para fazer quaisquer
outras escolhas, como votar, por exemplo????
No entanto, necessário é
não perdermos a nossa capacidade de refletir, de criticar e de duvidar daquilo
que nos é apresentado, seja por um especialista ou por qualquer outro cidadão
considerado comum(!). Importante também é que não nos esqueçamos que diplomas
ou quaisquer outros títulos de reconhecimento nem sempre são acompanhados pelo
"saber", e que há muitas pessoas, no mundo, "aqui fora",
que, embora não sejam reconhecidas pela sociedade como "doutoras", também detêm uma enorme riqueza
cultural e de conhecimento, que também deve ser no mínimo digna de ser
considerada.
A questão não é que não podemos acreditar no que nos dizem
pessoas que, sob determinados critérios, sejam consideradas especialistas, ou
que não podemos acreditar que pelo menos algumas delas realmente possuam um
conhecimento maior do que a média em relação a determinado assunto.
É por isso que diante dos
supostos especialistas que se proliferam, assim como de quaisquer outros
cidadãos "apenas" considerados "comuns", posso até acreditar no que
cada um deles me diz, sem problemas..., mas primeiro prefiro a DÚVIDA para
todos eles sem nenhuma distinção de patente, de terno ou de jaleco. Não abro
mão da minha capacidade de refletir e de criticar seja diante de quem for.
PS1: Esse recado mando especialmente aos (felizmente não todos!) médicos, dentistas, advogados e professores da faculdade de Direito que por serem nobremente tratados como "senhores doutores" e considerados especialistas acreditam que por si só isso é motivo para serem os únicos sujeitos capazes de conferir uma interpretação adequada sobre determinado assunto.
Esse recado vai
especialmente a aquela parte de profissionais, "especialistas", que se esquece de que o povo ou os seus alunos, embora não sejam reconhecidos
como"doutores", também têm a capacidade de duvidar, interpretar,
opinar, criticar e discordar daquilo que lhes é apresentado.
PS2: duvido
que o carinha do comercial da Seara provou o sensacional cachorro-quente que a
minha mãe faz, ou aquele na praça da Igreja Matriz, aqui, em Nova
Lima. "... Ele não sabe o que está perdendo..."...