sexta-feira, 9 de agosto de 2013

?PaLaVRaPalaVra?

                                                                               01/08/13      20:40/00:00




A palavra realmente é algo que me fascina. Para uma infinidade de problemas da vida, é dela que encontro respostas. Entre mim e as palavras acredito que há uma forte ligação: com a palavra encontro conforto e tranquilidade. Sem a palavra, há momentos tão difíceis que parecem inexoráveis, pois não se vão nem mesmo com o tempo.

Nessa relação entre mim e a palavra, contudo, devo admitir que nem tudo são flores. Volta e meia fico com um pedaço da minha cabeça encucado com alguma de suas facetas. Na escrita ou na fala, muitas são as minhas dúvidas em relação ao seu uso, muitas são as sensações que o seu uso me traz e estranhas são as conseqüências que elas podem causar até mesmo a terceiros- para quem não disse ou escreveu nada.

Porém, ainda que me traga muitos benefícios, por menor que seja, devo admitir que há um problema nessa relação. Ainda não tenho certeza se esse problema é tão somente entre mim e aquele livro chamado gramática que nos insistem jogar goela baixo, mas do que posso afirmar, diante de minha “longínqua” trajetória de dezenove anos que não vos julgueis caso considerei-a curta, é que há momentos em que as palavras, ditas ou escritas, geram em mim um enorme desconforto.

Às vezes penso que esse problema pode ser tão somente da quantidade de regras que acho desnecessárias contidas nesse livro o meu maior problema. Quanto à utilização de suas regras gramaticais que acabam por definir uma só determinada maneira que eu tenha de dizer ou falar numa série de situações ou tão somente pelo conservadorismo que ainda a ronda por continuar nas mãos de alguns senhores parados no tempo do Dia do Fico.

Entretanto, com o passar do tempo, entendi que essas alternativas não eram o meu problema, ou infelizmente o maior de todos eles. Isso, pois, além da minha implicância em relação à infinidade de normas de utilização das suas amigas próximas, como as vírgulas, muitas vezes a dificuldade que encontro nas palavras é quando elas já estão prontas para saírem de minha boca, prontas para eu falar, ou quando estou a finalizar um texto e não consigo pensar em algumas poucas palavras com tamanha afinidade sem que os meus pensamentos entrem em ebulição.

Hoje em dia, fico intrigado cada vez mais ao pensar numa possível relação existente entre elas. Depois da primeira palavra escrita no papel há alguma que deve ser a próxima? Na prosa ou no verso, como é possível estruturá-las de maneira lógica e acessível ao entendimento de outras pessoas distribuídas numa série de linhas? Como é possível dizer e elucidar um assunto numa prosa de várias páginas sem desdizer tudo aquilo que já foi dito com outras palavras numa extensa sequência?

Dessa inquietude em relação à lógica das palavras, sinto muitas vezes sensações antagônicas principalmente quando escrevo. Ainda que na escrita encontro refúgio e paz por conseguir despejar e inundar meus problemas e ansiedades num simples papel, estou num momento em que a escrita tem sido concebida de maneira cada vez mais difícil (se é que concebida é o termo correto). Não entendo se são normais algumas dificuldades que sinto quando falo ou escrevo, se tais dificuldades são tão somente causadas por momento ou por falta de costume, se levar um tempo maior que a média das pessoas para escrever um texto não é algo que mereça tanta atenção, ou se isso é tão somente falta de organização ou aptidão...
...Sinceramente ESPERO QUE NÃO!

Neste ano, tive a sorte e o privilégio de assistir a uma palestra de um dos maiores poetas ainda vivos no nosso país, Ferreira Gullar. Achei ainda mais interessante o seu discurso no momento em que o poeta fora indagado por alguém da platéia sobre uma possível afinidade entre as palavras. Com grande surpresa, inicialmente achei engraçado que outras pessoas compartilhavam a mesma dúvida que a minha e até mesmo pensei que eu não deveria ser tão bizarro a ponto de levantar questões tão “normais” como essa, ao mesmo tempo em que ascendeu-me um pouco de esperança e ansiedade ao pensar que o poeta saberia a resposta e a me diria naquele momento e eu ficaria em feliz, tão somente feliz!

(parada para um “café”, seis dias depois...) 07/08/2013

Segundo Gullar, não há nenhum compromisso entre elas. Para ele, um poema feito por um autor, uma vez perdido ou rasgado, nunca mais pode renascer com as mesmas palavras, mesmo que escritas pelo mesmo autor. A título de exemplificação, Gullar contou à platéia sua tentativa de refazer um poema, com o mesmo título e as mesmas palavras, pois não o achava em sua casa e gostaria de relê-lo. Sete anos mais tarde, na última gaveta de sua escrivaninha, Gullar nos contou que reencontrou o poema perdido e decidiu compará-lo ao “velho-novo” poema escrito diante da ausência do original. Entretanto, segundo ele, a não ser pelo título, nenhum sentido nas palavras poderia ser visto igualmente entre os dois, nenhuma palavra estava posta de maneira análoga entre eles, a intensidade com que foram usadas as palavras nos dois poemas não era a mesma, e assim o acaso era a única relação plausível que parecia existir entre elas.

Alguns meses depois, confesso que continuo com algumas dúvidas relacionadas entre o acaso ou o ordenamento existente entre as palavras. Da mesma maneira que Gullar alegou a existência do acaso, não duvido que encontre outros poetas tão geniais quanto que me alegarão a afinidade e ordenamento necessário que existe entre elas. Diferentes tentativas de explicações para tentarmos entender tamanho poder que elas desempenham sobre nós.

Depois de muita reflexão, decidi que, pelo menos neste momento, o melhor caminho para eu me despreocupar com a fala e a estruturação dos meus textos é não buscar um abismo entre o Caos e o Cosmos em relação à afinidade entre elas. Não escondo a minha preferência pelo acaso, que deve ser o responsável por nos possibilitar sermos ao mesmo tempo tão iguais e diferentes a cada dia, quando conversarmos com alguém que amamos ou quando simplesmente falamos consigo mesmos. Mas apesar de minha preferência pelo acaso, não julgo aqueles que se sentem mais confortáveis em acreditar que as palavras, que foram ou que serão ditas por nós, já foram escritas por algo ou alguém em algum lugar e que não temos condições de modificá-las durante o decorrer da nossa vida.


Pelo menos temporariamente, busco a naturalidade como o melhor caminho para todas elas.




???