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Na democracia
brasileira, uma das maiores conquistas garantidas pela Constituição de 1988 foi
ter assegurado ao cidadão o direito de se manifestar e se organizar em
sindicatos, o que lhe garante um modo legítimo de defesa aos seus interesses.
Entretanto, já a partir da década de 1990, muitas dessas organizações, como a
CUT (Central Única dos trabalhadores), passaram a ser lideradas por
representantes políticos, líderes que, ao invés de promoverem a estrita defesa
aos interesses do trabalhador urbano, condicionaram-se à obediência às ordens
de figurões políticos do país, remetendo-nos ao período do peleguismo no Brasil.
A CUT do Rio tem
preparado uma série de manifestações em clara oposição às penas deferidas pelo
STF a representantes do PT na ação penal 470, o mensalão. Líderes do sindicato,
sob alegação de ter sido um julgamento político, creem que as sentenças do STF
no mensalão devem ser anuladas, pois foram tomadas sob influência da mídia, da
pressão popular e da oposição da base governista, com o objetivo de enfraquecer
o PT. Diante de tal posição do sindicato e de seu histórico marcado por apoio
ao partido dos trabalhadores, mais uma vez a maior organização sindical do
Brasil parece refém da influência dos interesses de mandatários petistas, que
estão no comando do sindicato, o que, novamente, nos faz repensar sobre a real
atuação do sindicalismo no Brasil hoje.
Em declaração dada à
Folha de São Paulo no dia 25 de janeiro, José Garcia Lima, dirigente da CUT-RJ
e organizador das manifestações contrárias às punições a petistas no mensalão,
crê ter ocorrido no STF “um julgamento político” e qualifica como “vítimas” os
petistas condenados no caso, como o ex-ministro chefe da Casa Civil, José
Dirceu, e o ex-presidente do PT, José Genoíno.
Para José Garcia, não
houve compra de apoio parlamentar durante o governo Lula e que, por isso, esse
apoio dado a petistas não pode ser considerado subordinação da CUT ao partido
(como muitos estudiosos creem acontecer), mas sim, segundo José Garcia, uma resposta
democrática do maior sindicato do país a um julgamento político. Lima diz que
não teme, com isso, ver a central vinculada com a defesa da impunidade, mas sim
que tal posicionamento leva em consideração que “A CUT teme ser cúmplice de uma
injustiça”.
Em favor dos petistas
culpados pelo STF, Lima também reiterou a tese segundo a qual o caso não se
tratou de compra de apoio parlamentar no Congresso a favor do governo Lula, mas
somente da prática recorrente na política brasileira de caixa dois de campanha.
Para mim, soa como
lamentável e no mínimo preocupante em pleno 2013 um sindicato da grandeza da
CUT, com mais de sete milhões de trabalhadores representados, demonstrar-se
ainda tão ligado a um partido político. Não sou contra a filiação partidária
dos seus representantes, mas creio ser incorreta a posição de um líder como
José Garcia, com tamanha influência sobre a classe operária no país, tomar essa
posição de defesa dos condenados pelo STF pautado em sua figura de dirigente da
CUT do Rio de Janeiro.
Todos os brasileiros
têm, sim, o direito garantido de se posicionarem contra ou a favor publicamente
de alguma decisão deferida pelo nosso Judiciário. Entretanto, cabe-nos a tarefa
importante de garantir esse direito a todos para que, segundo as suas próprias
reflexões diante das sentenças, sem influências de organizações
político-partidárias ou sindicatos, posicionem-se contra ou a favor de alguma
decisão deferida pelos Tribunais.
A relação da CUT com
o PT tem sido alvo de críticas até mesmo dentro do próprio Partido dos
Trabalhadores. Ex-petistas como Fernando Gabeira, Heloísa Helena, por exemplo,
em oposição à influencia do partido na CUT na década de 1990, abandonaram a
sigla e ajudaram a fundar novos partidos políticos como o PV e o PSOL, hoje,
partidos de oposição ao PT. A relação da CUT com o PT, por isso, e por sua
recente nova empreitada em reverter as penas do STF, para muitos, há muito
tempo deveria ser alvo de uma investigação a fundo da polícia federal, uma vez
que, caso seja realmente comprovada tamanha influencia dessa sigla dentro da
CUT, o poder de manifestação e autonomia do trabalhador urbano está subjugado
aos interesses da classe dominante, da classe que está no poder e consegue se
manter nele devido à sua influencia diante das massas.
Creio também ser
lamentável a defesa por parte de um dirigente da CUT da tese de que o mensalão
se tratou exclusivamente de caixa dois de campanha, e que, por isso, os
envolvidos não podem ser presos, já que, segundo Garcia, não há nenhuma
campanha política no país nos últimos 50 anos que tenha sido limpa. Acredito
ser um absurdo esse tipo de posicionamento de um representante da classe
operária do Brasil, país marcado em toda a sua história pelo poder das
oligarquias políticas, que se mantêm no poder devido ao seu grande poderio
financeiro e descumprimento das leis brasileiras.
Diante do
posicionamento da CUT em favor dos políticos petistas considerados culpados
pelo STF e da importância dos sindicatos como resposta legítima do trabalhador
aos patrões e empresários no Brasil, é possível inferir a real necessidade de
apuramento das relações partidárias com o sindicalismo no país. Muito além do
um bilhão de reais que os líderes de sindicatos movimentam anualmente com as
mensalidades pagas pelo trabalhador brasileiro, o enorme número de
trabalhadores filiados aos sindicatos podem ser facilmente coagidos a partir de
interesses dos partidos políticos que desrespeitam as regras e corrompem a
Constituição brasileira. É preciso também que a decisão do STF no caso mensalão
seja respeitada, pois tal medida pode representar o início da verdadeira
instauração do Estado de Direito no Brasil, onde todos poderão ser julgados
igualmente, independentemente de sua classe social. As sentenças deferidas
pelo mensalão, realmente, podem causar insatisfação e descontentamento em
líderes acostumados com a impunidade. Contudo, discordar de uma decisão do STF,
sim; criticar, sim; desobedecer, não.
Tira dúvidas!
Pelegos: Pedaço de pele ou lã
utilizado para amenizar os impactos em uma
cavalgadura.
O sindicato dos pelegos tem como um dos seus responsáveis João Goulart, então
Ministro do Trabalho do governo Vargas (1951-1954). Sindicalistas pelegos são
aqueles que, aparentemente representando os trabalhadores, atendem de fato aos
interesses do governo ou dos patrões.
CUT: A maior central
sindical do Brasil, da América Latina e a 5ª maior do mundo, com 3.438
entidades filiadas, 7.464.846 trabalhadoras e trabalhadores associados e
22.034.145 trabalhadoras e trabalhadores na base. Apresentou inúmeras
dissidências nos últimos anos, principalmente de grupos de esquerda, em
oposição à relação do sindicato com o PT.
Caixa
dois: Para Cármem Lúcia, ministra do Supremo
Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, defender a tese
de que houve caixa dois de campanha para a defesa dos culpados no mensalão é o
mesmo que tentar justificar um crime com outro crime ao alegar que o dinheiro distribuído
a parlamentares era para o pagamento de dívidas de campanha, e não compra de
apoio político. "Alguém afirmar que houve
ilícito com a tranquilidade que se fez aqui é algo inédito em minha vida
profissional. É como se o ilícito fosse uma coisa normal e pudesse ser assumido
tranquilidade. É como dizer 'ora, brasileiro, o ilícito é normal'. A
ilegalidade não é normal. Num estado de direito, o ilícito há de ser processado
e punido”, palavras da ministra diante da defesa dos advogados petistas.
Declaração
de José Garcia Lima concedida à Folha sobre o julgamento do mensalão: "Não há uma única campanha política no país nos
últimos 50 anos que tenha sido limpa. Não defendo corrupção nem discuto
descumprimento de regras. Por que diabo valem para o PT as regras eleitorais e
não para os outros? Tenho de fazer campanha vendendo camisa, bóton e santinho
do PT. Os outros podem fazer caixa dois que não acontece nada?
"Conheço, do PT,
todos os envolvidos. Tenho absoluta certeza de que nenhum deles colocou nenhum tostão
no bolso. Justiça episódica é sacanagem. Se for para todo mundo, a gente até
embarca."