Antes de qualquer coisa, deixo claro que aqui está a minha opinião sobre um assunto tão polêmico, tão importante, relacionado à construção da democracia brasileira.
Que a aprovação das cotas raciais é uma decisão histórica, todos nós já sabemos. Mas, a partir de agora é que veremos quais serão os reais reflexos dessa medida na vida não só dos universitários brasileiros, mas de todo o povo. Esta decisão, em minha opinião, é mais um meio criado pelo poder público, agora também sustentado pelo STF, em ludibriar a sua falta de eficiência em garantir a todos os brasileiros e brasileiras, brancos; negros; pardos; ou índios, educação de qualidade, e condições igualitárias para serem escolhidos em qualquer situação da vida por meio de seus méritos, não por sua origem.
Criticar o governo, o sistema, realmente é fácil. Mas, devemos, também, lembrar-nos do nosso passado colonial atrasado em alguns aspectos, quando relacionados à escravidão. Os negros durante séculos, e, em vários casos, até hoje, foram excluídos da sociedade, da vida pública e da autonomia em tomar as suas próprias decisões. Processo este, embasado por uma visão arcaica que a maioria da sociedade do país tinha até então. Mas, hoje, uma medida que visa à manutenção das cotas já existentes nas universidades e, além disso, dá autonomia para as mesmas ampliá-las, joga abaixo a idéia de igualdade.
Todos nós, brasileiros, temos uma dívida a ser paga ao povo negro; também aos índios, importunados e molestados desde o primeiro contato com o povo europeu. Mas, é necessário que essa igualdade seja conquistada através de medidas que não prejudiquem os demais, para que o Brasil não simplesmente reinvente uma nova forma de desigualdade em pleno séc. XXI.
Para mim, outras soluções para este problema seriam mais viáveis e mais corretas. Talvez, um sistema que garanta vagas a pessoas em que seja considerada a situação sócio-econômica do candidato, não apenas racial, poderia ser mais digna e eficaz. Mesmo que dados verídicos comprovem que a maior parte da população pobre do Brasil é a população negra, este parâmetro, em hipótese alguma, pode servir como único critério para adoção das cotas. No Brasil, há também brancos que não possuem ensino superior, pobres, que não cursaram nem mesmo o ensino fundamental devido a sua situação econômica. No Brasil, país tão mestiço em sua essência, o sistema de cotas não pode ser aceito assim, de forma tão homogênea.
Em entrevista a rádio CBN, no dia 27 de abril, o Antropólogo Roberto Da Matta, também professor da PUC-RJ, dentre seus comentários em relação à permanência do sistema de cotas raciais, cometeu um grande equívoco em uma de suas falas, em minha opinião. Para sustentar a sua tese em favor das cotas raciais, Roberto Da Matta alegou: “A pobreza é uma condição superável, você pode começar uma vida pobre e terminar uma vida milionário, mas se você for negro, ou se você for índio, ou se você for pardo, ou se você for mulher, você começa sua vida como tal, e termina como tal, a cor não muda”. Palavras estas, que o professor embasou seus argumentos de que estes seriam um empecilho para a obtenção de emprego e igualdade de oportunidades. Sim, há muitos lugares no Brasil que ainda questões como essas servem de empecilho na obtenção de oportunidades. Mas, ser negro, ser pardo, ou índio, deve ser visto como uma questão de orgulho, imutável, contemplada. Um negro, não tem que ser branco, claro, senhor Roberto Da Matta. Mas, um negro, um índio, um pardo, uma mulher, tem que ter acesso as mesmas oportunidades que um branco ou qualquer outra pessoa possua.
E você, o quê acha sobre isso?